Por Norberto Presta*:

Em que consiste meu trabalho dramatúrgico? Em criar e estruturar sentidos através da ação. Drama significa ação. Em algum lugar encontrei escrito: “dramaturgia como a arte ou a técnica da composição dramática”, porém, também é possível pensar em dramaturgia como a arte ou a técnica da composição das ações cênicas.

A dramaturgia compõe os espetáculos criando e estruturando sentidos, como no meu caso; indagando a partir das possibilidades de criar ou descobrir sentidos nas ações que dançam nossos corpos, ou a partir dos corpos, preferivelmente dos corpos que agem entre a dança e o teatro.

Procuro escolher e orientar a pluralidade de sentidos dessas ações, dessas dança-ações, sem diminuir a complexidade, e para não diminuir a complexidade das ações, coloco essas dança-ações, essa dramaturgia do ator-bailarino em relação ao complexo território do espaço cênico, para que surjam os relatos ocultos, as multiplicidades de sentidos que move cada ação.

Como?

Provocando a sinergia entre a técnica de composição da própria cena (iluminação, cenografia, música, figurino… texto…) com a precária “fala” que o ator-bailarino porta na cena ainda em processo de criação.
Fala! Mas o que quer dizer falar no palco na dramaturgia hoje para mim?

Seguramente não é só proferir palavras, ainda que o texto esteja presente com toda a sua potência poética de palavras carregadas de sentidos.

De qualquer modo, eu pretendo que nesse convívio, nessa construção dessa sinergia com os outros componentes da cena, com as outras “falas”, o texto esteja presente como ação, já não mais como se o teatro fosse parte da literatura, com o texto dominando e subordinando todo o processo criativo, mas como uma fala-ação mais que se entrelaça com as outras.

Como?

Fazendo com que seja palavra em ação, que seja som, vibra-ação, musicalidade, palavras que vão além da significação conceitual, abrindo outras possibilidades cognitivas e afetivas dessa realidade em criação, em transformação, onde a palavra também é dança-ação. Que o texto não esteja na cena para informar. Gosto da frase do poeta Manoel de Barros: “Para cantar é preciso perder o interesse de informar.”

É assim que considero o texto como mais uma ação, junto com todas as outras técnicas de composição cênica já nomeadas; penso a música como ação, a iluminação como ação, o figurino, o cenário como uma instalação que é em si mesma uma ação entrelaçada com outras das chamadas técnicas que compõem a cena, técnicas que deixam de ser ilustrativas, subordinadas, decorativas, de efeito, que deixam de ser técnicas para serem ações.

Daí que parafraseando a definição do início, entendo o meu trabalho dramatúrgico como arte ou método de composição das ações cênicas.

*Norberto Presta é “Teatrante”, escritor, migrante, sonhador e realizador de sonhos. Ítalo-argentino atualmente reside entre Rio de Janeiro e Pádua, Itália. Desde 1971, ator, diretor, pedagogo e dramaturgo. Em 1981 começou a trabalhar entre a Europa e a América Latina escrevendo, dirigindo e atuando em mais de 100 espetáculos. Todas Norberto Presta quintas ele escreve sobre dramaturgia.


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