Por Norberto Presta*:

O que a gente faz com as palavras é apenas descrever a realidade aparente, porque a realidade vá além das palavras. Devemos ir além das palavras, como conceito descritivo da realidade aparente: é aqui que o teatro pode ser como a poesia, como um poeta que é um criador de realidades, um revelador de realidades. Só que em lugar de fazer isso usando as palavras carregadas de sentidos, como a poesia faz, o teatro pode fazê-lo com as ações carregadas de sentidos.

Estamos acostumados a definir os nossos pensamentos através das palavras, aparentemente pensar é pensar em palavras. Existe um domínio das palavras no raciocino, na comunicação do pensamento, do conhecimento.

Mas o que acontece quando pretendemos “falar” sobre algo que não é definível com palavras?

Nem todo o pensamento pode ser verbalizado. Que acontece quando queremos acessar de algum modo de relação com essa miragem que é a realidade, por cima ou por baixo do raciocínio. Vocês podem estar me vendo e escutando e logicamente além das minhas palavras chegam outras informações; chegam tonalidades da minha voz, expressões do meu corpo.

De qualquer modo vocês estão concentrados nas minhas palavras, tentando capturar o meu pensamento através da minha fala, mas chegam outras informações também, outras falas. Chegam outros pensamentos, outras vibrações, outras realidades.

Em arte o pensamento precisa sair desse lugar de racionalismo cartesiano, que prioriza o papel da razão, na aquisição e na comunicação do conhecimento, pois através da percepção do corpo na ação, é possível conquistar outras visões das realidades, a serem criadas, outras miragens.

A arte convida a superar o racionalismo da logica verbalizável, ultrapassando o limite dessa estruturação do pensamento verbalizado, para ir além do que podemos pensar, usando apenas pensamentos falados. Existem outros pensamentos, existem também pensamentos dançados, dança-ações, não só no teatro, na dança, nas artes em geral, existem também aqueles pensamentos dançados na vida. Há vida na dança e dança na vida, e uma vida dançada revela os mistérios ocultos da realidade aparente.

*Norberto Presta é “Teatrante”, escritor, migrante, sonhador e realizador de sonhos. Ítalo-argentino atualmente reside entre Rio de Janeiro e Pádua, Itália. Desde 1971, ator, diretor, pedagogo e dramaturgo. Em 1981 começou a trabalhar entre a Europa e a América Latina escrevendo, dirigindo e atuando em mais de 100 espetáculos. Todas Norberto Presta quintas ele escreve sobre dramaturgia.


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