Por Norberto Presta:

O corpo tem a sua própria capacidade cognitiva da realidade. Essa a capacidade que eu, como dramaturgo, quero perceber para fazer o meu trabalho, que é o de criar e estruturar sentidos a través da ação. Para assim criar, talvez descobrir, outros sentidos de estar na vida. Quero criar uma realidade que supere a palavra como organizadora do pensamento, e fazer isso através de corpos fabulando, não de corpos falando. Corpos fabulando? O que vem a ser isso?

Quando um corpo consegue “tocar” e atualizar suas memórias físicas, ele está fabulando, está conquistando uma presença que não é apenas a representação de uma forma, mas é a sequência atualizada de uma série de experiências, de vivencias, que podem ser próprias, pessoais, ou ainda mais interessantes. Podem ser aquelas que foram descobertas, criadas nos ensaios, nas improvisações. Suas ações físicas são sustentadas por essas vivências. Seu corpo é uma caixa de ressonância onde a memória física é a música que possibilita a sua dança, a dança-ação.

Penso na dramaturgia como o cruzamento dessas memórias com outras memorias; com aquelas que contêm os objetos, aquelas que produzem a literatura, que contém as culturas e histórias dos outros, as memórias das histórias de quem assiste, entrelaçadas com as memorias físicas da dança-ação. Penso numa contaminação das memórias que transformam a realidade em arte. Arte como memória em ação. Teatro como espaço de encontros de memórias.

*Norberto Presta é “Teatrante”, escritor, migrante, sonhador e realizador de sonhos. Ítalo-argentino atualmente reside entre Rio de Janeiro e Pádua, Itália. Desde 1971, ator, diretor, pedagogo e dramaturgo. Em 1981 começou a trabalhar entre a Europa e a América Latina escrevendo, dirigindo e atuando em mais de 100 espetáculos. Todas Norberto Presta quintas ele escreve sobre dramaturgia. Canal: https://odysee.com/@TeatranteCanal:7


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